terça-feira, 6 de junho de 2017

LERIADO

Zé Prativai

Não é de hoje que venho avisando:
a coisa tá feia porque nunca foi bonita.


A prisão de Henrique Alves é o epílogo constrangedor da decadência da política dividida em capitanias hereditárias, rebatizadas de Estados nesta República de lama.

As imagens do sujeito saindo de casa cercado de populares, sendo chamado de ladrão e recebendo outras homenagens mimosas, tentando se esconder atrás de óculos de sol e cabelos pintados num preto ridículo modelo asa de graúna, resume e leva para o final um capítulo iniciado décadas atrás pelo velho patriarca Aluízio Alves, seu pai, que dividiu o Rio Grande do Norte ao meio, a outra parte cabendo a outro coronel, o velho Dinarte Mariz.

Uma divisão que tinha nome: bacuraus eram os apoiadores do Cigano (Aluízio) e bicudos os discípulos do Fechador (Dinarte). Ou seja, a velha divisão estúpida dos estúpidos, que se digladiavam em qualquer lugar enquanto seus senhores-ídolos levavam o bem-bom de todos apenas para os de casa. A velha divisão renovada entre coxinhas e petralhas. A velha vida de gado: povo marcado, povo feliz!

Juntava os dois velhos inimigos mortais a devoção pelo poder, pelas verbas públicas e pelo compadrio. Tudo em nome de um Rio Grande do Norte que era só deles, das suas famílias e de alguns poucos eleitos, bajuladores de vida inteira.

A dinastia Mariz desapareceu pela incompetência dos herdeiros para a política. A dos Alves permaneceu multifacetada e repartida (sempre em harmonia) para ocupar todos os espaços, para subsistir depois que o velho patriarca assumiu seu papel de zumbi nos últimos anos de vida.

Paralelamente, outras dinastias menores, dos Maia, dos Rosado e dos Faria, abocanharam as sobras e fizeram suas fortunas sempre sob a sombra frondosa de governos, cargos e naturalmente dinheiros públicos.

Foi nesse mesmo tempo que o Rio Grande do Norte, que era um lugar de sonho, tornou-se um inferno de criminalidade e um dos lugares mais violentos do mundo, enquanto as excelências chafurdavam na lama da corrupção, replicando na aldeia o modelo nacional que beira o escárnio.

Tanto que, na última disputa para o governo estadual, estavam frente a frente esse mesmo Henrique Alves agora preso e Robinson Faria, ambos delatados pela JBS como beneficiários de propinas gigantescas. Detalhe: brigavam para suceder Rosalba Ciarlini, de lamentável memória, uma das piores governadoras que o Estado já sofreu, egressa das hostes dos Rosado e defenestrada antes do fim do mandato desastroso.

Nestes tempos em que todo mundo mete a mão grande onde bem entende, vou roubar de contexto e de um belo texto de Heraldo Palmeira - publicado aqui mesmo neste Boga -, o que já é uma citação do Eclesiastes e cai como uma luva para esta ocasião:

“O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há novo debaixo do sol”.

RECEITA
Emílio Odebrecht e Alexandrino Alencar fritaram Lula com azeite de dendê, usando as panelas de pedra de Sérgio Moro.

FLASH
Com sua mania de sair bem na foto, Lula da Silva só anda com um fotógrafo a tiracolo e terminou enforcado pelos cliques. Negou todos os encontros com os outros patifes, que também sofrem de fotomania. Agora, Sérgio Moro virou colecionador de fotografias.

SACANAGEM
Só mesmo no Brasil um presidente enlameado tem não sei quantos dias para responder 84 perguntas, e ainda pode contratar advogados caros para assumir a tarefa por ele, enquanto os estudantes têm só quatro horas e meia para as 90 do Enem! E são expulsos da sala se tentarem pedir ajuda.

MISTÉRIO
Essa PF é uma fofoqueira. Agora, todo mundo quer saber quem é o tal do Edgar da pergunta 47 do questionário de Temer. Rocha Loures, o homem da mala, sabe. Aí tem!

SEI NÃO...
Os advogados de Rocha Loures fizeram uma série de pedidos em nome do cliente, especialmente que não lhe raspem a cabeleira na hora de ir para a prisão. Pense num negócio mal explicado. Eu, heim? Aí tem também!

Zé Prativai é um cretino nas horas vagas, todas vagas.

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