domingo, 14 de maio de 2017

TODOS OS DIAS DE UM DIA

Heraldo Palmeira

A gente vai crescendo, crescendo e quando percebe está na vida adulta, rodando a maturidade.

De repente, um acidente de percurso, o caminho interrompido e a gente fica só. Sim, fica só na inteira dimensão do que isso quer dizer.

Podemos estar cercados de gente, de amor, de felicidade, de alegria, de bens, de tudo que há no mundo. Mas, se ela não estiver em algum lugar que você encontre, por perto ou longe, será possível entender a exata dimensão desse estar só.

Desde muito cedo eu tento entender a força de três letras que se juntam e anasalam o som mais bonito que há para ser ouvido. Há alguns anos eu só consigo emitir esse som a esmo, pois não me é dado saber para qual direção devo apontar na hora de dizer.

Há alguns anos eu conheci o sentido pleno da palavra “órfão”. Eu não recomendo. Eu não compreendo. Eu não acomodo.

“E a saudade desacomoda e se torna de ontem....” – diz a minha irmã, única, por escrito que me chega enquanto escrevo, no exato momento da minha pausa depois da palavra “acomodo”.

E eu não paro nem no anteontem, porque a vida me deu uma original e outras tantas como suporte precioso. Que foram indo em desordenada cronologia – anteontem, antes de anteontem, ternontonte...



        Totonha, Tetê, Ina e Dedéia (original e suporte precioso)


De novo a minha irmã única e bastante para dizer tudo, sobre a nossa e as de suporte precioso:
“Nada era mais doce que o seu olhar... nada mais seguro que a sua presença... nada mais forte que a sua fé [...] E que continuam a ‘me cuidar’ da Eternidade.”

Sou filho que é pai. Que precisou de uma mulher para ser mãe e me fazer pai. Falo da maternidade, que substitui a palavra “grandeza” quando deixa de ser feminina e se transforma num estado de espírito.

Sim, porque fui mãe da minha filha muitas vezes, sem deixar de ser pai. Sim, porque quando o sentimento se torna profundo a determinado ponto, ele deixa de ser masculino para ser materno. Sem gênero, apenas sentimento. Sem volta a partir do nascimento.

Dia das Mães é dia que resume todos os dias e comporta todas as pessoas que, tomadas por sentimento materno, acolhem, protegem, cuidam e guiam como só uma verdadeira mãe é capaz.

Heraldo Palmeira é produtor cultural, aluno do mundo.

7 comentários:

  1. Grandioso. Comovente. Intenso e verdadeiro.

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  2. Vc sempre com suas letras maravilhosas e impecáveis.parabens por este dom divino que lhe foi presenteado. " O ESCREVER BEM". Abraço

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  3. Comovente e verdadeiro. Parabéns!!!👏👏👏👏👏💎

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  4. Lendo mais um dos seus textos brilhantes e esse em particular cheio de uma imensa emoção, me toca dividir com você as semelhanças e diferenças da saudade que ora me assoma. Sei da dor da inexistência da presença viva em corpo e mente daqueles que amamos e se foram.Querido amigo,sinto uma saudade diferente, sinto saudade de uma mãe a quem devo tudo o que sou nos limites que consegui e hoje se foi a ponto de não saber quem eu sou. Olhar para a unidade física de uma mulher que com pulso forte, garra e inteligência incomuns tocou a vida dos filhos e vê-la ausente da consciência de existir e da existência dos que a amam, faz existir uma forma de saudade muito intensa e peculiar que é a saudade de alguém que aqui está mas já se foi. É isso Amigo. Abraço terno e fraterno

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    1. Heraldo Palmeira16/5/17 12:02 AM

      Mestre,
      Seu relato e comovente e bem sei como é um dilema complicadíssimo. Abraço no mesmo modelo.

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  5. Chico Queiroz14/5/17 9:03 PM

    Excepcional! Totonha está lendo e compartilhando com o precioso suporte. Muito agradecemos o aprendizado, mais do que materno.

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